[Re]construções

"(...) Todos caminhos trilham pra gente se ver
Todas trilhas caminham pra gente se achar, né "
Tudo Diferente - Maria Gadú



Acordei assustado no meio da noite, passei a mão pela cama, sobre o lençol bagunçado, mas você não estava lá. Na verdade você nunca esteve lá, você apenas se deitou comigo em meus sonhos e ao acordar a realidade te rouba de mim.

Andei a vida toda, um passo de cada vez, sempre tentando fazer a coisa certa e seguir o caminho correto. O medo de dar um passo fora da linha e de me perder pela estrada me fazia seguir estritamente o risco no chão e com isso eu caminhava de cabeça baixa, atento somente à linha... Mas dizem que é preciso estar distraído para encontrar o que realmente procuramos.
Numa dessas minhas caminhadas de pensamentos soltos, olhos baixos e mãos no bolso, foi que eu esbarrei em você. Geralmente eu não levantaria a cabeça nem pediria desculpas, apenas continuaria meu caminho, ignorando a interrupção momentânea, mas alguma coisa, mais forte do que eu, me fez despregar os olhos do chão e encontrar seu sorriso desajeitado. Desculpamos-nos ao mesmo tempo e você sorriu outra vez por essa coincidência.
A pressa que eu vestia rapidamente desvaneceu e meus olhos só tinham olhos para você. Seus cabelos eram despenteados pelo vento, seu rosto parecia esculpido em mármore, feito pelas mãos de um artista de talento incrível.
- Me desculpe – eu disse outra vez, ainda sem saber porque, talvez fosse apenas um pretexto para te manter por perto por mais algum tempo.
- Pelo o quê? – você perguntou e sua voz, clara e sem o peso da minha flutuou no ar e bailou no vento.
Será que é isso que chamam de amor à primeira vista? Mas eu nunca acreditei nesse tipo de coisa, ou melhor, podemos nos apaixonar à primeira vista, mas com o tempo essa paixão diminui, portanto prefiro me apaixonar a prestação. E você na minha frente me dominava os sentidos.
- Por ficar encarando – respondi e desviei, relutantemente, o olhar.
Outro sorriso simples e magnético brotou em seu rosto, você toda educada me disse que estava atrasada e partiu. Deixou-me sozinho com a minha linha sob os pés.
O chão sugou meus olhos outra vez e sobressaltei-me ao vê-lo. Eu estava fora da linha.
Então é assim? As coisas acontecem fora da linha? Os caminhos se cruzam para formar outros caminhos. Os pés escorregam para um novo sentindo.
Olhei para trás e percebi que enquanto mantive meus passos na direção que as regras gritavam eu não vivi a minha vida como eu queria.
Agora vou reconstruir meu caminho, meus pés e minha direção. Levantarei a cabeça e passarei a enxergar olhares e belos sorrisos. Tropeçarei por não ficar atento ao chão e procurarei com calma, por um par de mãos para aquecer as minhas, por um par de olhos profundos para eu me afogar e por aquele sorriso riscado no canto da boca para combinar com o meu.
Por mais forte que seja seu alicerce, a vida é feita de reconstruções, às vezes precisamos pôr abaixo algumas atitudes e edificar outras em seu lugar.

Deitei na cama, você já me esperava e não era sonho dessa vez. Encontrei você fora da linha que eu seguia, seu olhar grudou no meu e seu encanto me enlaçou.
Toda noite quando deito ao seu lado eu me desculpo e você, sorrindo encabulada, me pergunta o motivo e eu sempre respondo:
- Por te querer só para mim.

Primeiro texto em homenagem aos blogs em 2011. O [Re]construções é o blog da Tatiane Tosta, espero que ela e você que está lendo tenha gostado do texto. Abraços.


Rodolpho Padovani - A arte de um sorriso


Esse escrito Lindo, foi produzido pelo meu amigo Rodolpho, sem palavras pra descrever o quanto me emocionou e o quanto realmente falou de mim. Beijos - Tati

Comentários

Inercya disse…
Que bela homenagem essa, Tati. E logo uma primeira, hein? Quanta honra!
O texto está incrivelmente bem escrito e a história está linda.
Parabéns para ele, por escrever tão bem e pra você, por receber isto.
:*
Clara disse…
Que lindo e com uma lição incrível! Parece até que falou pra mim, que tenho mania de ser tão perfeccionista. A felicidade está quase sempre fora da linha... Isso é lindo!
Monique Premazzi disse…
Que conto lindo, Tati *-*
Um amor a primeira vista é tão conto de fadas, isso poderia acontecer com todo mundo, aposto que o mundo seria bem mais magico.

AMEI!
Alias, fiquei tão feliz que você voltou a visitar meu blog. Obrigada por todos os comentários amiga, você que é demais.

Beijinhos e se cuida <3
Juliana Santiago disse…
oie, amei o seu blog, raras pérolas que encontrei na net.
amei mesmo !!!
vou seguir o seu, e sempre estarei por aqui.
;

bjus
jmsdramaqueen.blogspot.com
Juliana Santiago disse…
naum achei o link para seguir :<
Inercya disse…
Ah, já que você não descobriu por si só, eu digo...Tem uma surpresinha pra você no meu blog ;)
;*
Jade Amorim disse…
Sabe, eu acho que nós fazemos o nosso caminho... seguir o caminho traçado por outros apenas nos leva até onde eles foram.
Eu tava assistindo Amor em 4 Atos na terça e vi uma frase assim que ficou na minha cabeça "Às vezes o que procuramos não é o que procuramos, mas sim o que encontramos."
Não faz muito sentido com o conto, não sei nem porque estou falando disso, mas me veio na cabeça quando li.
Adorei a história, a música da Maria Gadú combinou perfeitamente. Só queria saber como eles se encontraram de novo depois do esbarrão! rs

Beeijos!
Unknown disse…
Ele é maravilhoso mesmo!!!! Amiga, tem selo pra você no meu blog!
Auricio disse…
O Rodolpho sempre surpreende.
Sempre visito o blog dele e também o que ele participa com vários contos (Contos franqueados, se não me engano...) ele escreve muito bem. Ótima homenagem!
Entrei aqui pelo blog da Laura (ou Inercya). Ela soube indicar.


Beijo!

Postagens mais visitadas deste blog

Como Bexigas

[Palavras Mil]

[Palavras Mil]