Não somos, não seremos

Se você está nessas redes sociais, há grandes chances de você ser cristão e grandes chances de ser homossexual. Em ambas as situações, eu gostaria de aproveitar as facilidades virtuais e abrir esse diálogo. Talvez você esteja aqui por ser um amigo, ou um familiar, o que me faz pensar que exista uma consideração e algum tipo de afeto nessa relação que construímos, e se é assim, você provavelmente conhece a Laiane e também tem algum respeito e consideração por ela, sobretudo, por quem ela é. Eu sou uma mulher cis lésbica, fui criada em uma família cristã, aprendi ao longo dos meus caminhos os preceitos da fé, experienciei o amor do divino, a sensação de acolhimento e aos poucos me distanciei do cristo institucionalizado. Por experiência própria, posso afirmar que a homossexualidade não está ligada a ausência de Deus, as relações familiares, ao conteúdo oferecido nas escolas, nem tampouco, possui qualquer conexão com os jogos infantis que rodeiam a criança em seus anos de desenvolvimento. Mas por mim, tudo bem se você pensar de outro jeito. O que eu gostaria, e acredito que a grande maioria dos homossexuais também, é que você seja capaz de respeitar quem eu sou, assim como eu respeito a sua heterossexualidade e não questiono de onde ela veio, seus traumas ou seus impulsos. A sociedade constantemente nos persegue, por sermos mulheres, e por sermos lésbicas, há os que nos querem: mortas estupradas curadas exorcizadas Há tantos quereres, mas todos, permeados pelo desejo intenso de que sejamos outras. Diferentes, transformadas, seja pela violência do estupro corretivo, ou pela veemência da fé... o que se espera é a mudança, através de seus olhos, que constantemente nos falam: Sejam quem vocês não são! Tenho dito, não somos, não seremos! Dia após dia, reafirmamos quem somos 'mulher cis lésbica', confesso que há dias em que preciso daquela conversa de espelho, olhar em meus próprios olhos e me auto acolher por ser quem sou. É preciso, certas vezes, olhar para si mesmo e ter coragem de ser inteiro, pois repetidas vezes, querem nos podar. Se você está pensando em votar no atual presidente, acredito que defenda a violência, a discórdia, o ódio as minorias, se você defende as políticas propostas pelo atual presidente, você defende o extermínio indígena, o genocídio da população negra, a degradação ao meio ambiente, se você está disposto a votar no B0ls0n4ro, mesmo sabendo os equívocos que ele cometeu que gerou tantas consequências negativas, e sobretudo irreversíveis nesse país, você certamente precisa rever os seus valores cristãos e suas experiências espirituais, uma vez que o Cristo do calvário, está longe da caminhada do ódio, da ira e das injustiças sociais. Por isso, o meu apelo, é que se possível você leia o Evangelho de Tiago, busque uma experiência de reflexão pra entender se realmente o seu voto está em consonância com o Amor de Cristo e seus preceitos. Faço esse apelo, porque eu não espero que você simplesmente naturalize quem nós somos e nos acolha, não queremos converter ninguém ao lesbianismo ou a homossexualidade de forma geral, muito ao contrário, gostaríamos que fosse possível, independentemente de qualquer coisa, pelo amor, pelo afeto que você possa ter por nós (Eu e Laiane), que você vote em alguém que se preocupe com a nossa segurança, alguém que não incite o ódio e a violência contra nós, alguém que possua propostas que garantam nossos direitos sociais. É só isso que gostaríamos. Gostaríamos que ao menos os nosso amigos e familiares, votassem em um candidato que não propague o ódio e a discriminação contra nós. Nós gostaríamos de um dia passear nas ruas de mãos dadas, de ir ao shopping de mãos dadas, de dar um selinho quando nos encontramos em uma padaria, mas há um medo imenso de que sejamos atacadas, violadas, violentadas, há um medo que paralisa, um medo que dói. Ambas, ouvimos de nossas mães que seus maiores medos eram as violências que poderíamos sofrer nessa sociedade, porque ela é dura e cruel com homossexuais, e essa sociedade ainda precisa mudar muito para deixar de ser perigosa para nós, e governos como o atual, só corroboram a violência, legitima o preconceito e a discriminação. Há um número enorme de mães que dormem e acordam preocupadas por saberem que seus filhos e filhas não estão seguras. Do mais, tenha certeza que a sexualidade da sua família e da sua posteridade, não será influenciada por um governo, uma cartilha ou uma conversa, quem somos está dentro de nós. Nas próximas eleições vote em alguém que não nos queiram mortas, dispense o ódio, o rancor... Vote com amor, vote por afeto. A vida, pede passagem.

Comentários

Leo Peixoto disse…
Obrigado, Tati!!! Linda reflexão !!

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