Das compreensões que chegam com o tempo
Ela que sempre buscava o porquê das coisas, agora andava
lenta – forçando a mente a compreender o que seria exatamente o escape.
Já havia escutado uma dezena de pessoas, falar a respeito
disso; escape – mas não conseguia compreender bem o que seria e nem tampouco
fazia ideia de como isso – esse tal escape – alcançaria sua vida.
Era setembro, dia primeiro exatamente. Ela havia chegado
exausta do trabalho, os pés cansados, a cabeça já pendendo para o lado –
precisava de um banho e do fim daquele mês. Já sentia antecipadamente todas as
dores das datas que ia chegar.
Entrou em casa desatenta, descalçou os sapatos e então
quando ia para o chuveiro sua mãe chamou-lhe.
- Filha, vem ver uma coisa aqui na cozinha.
Suspirando, foi.
- O que é mãe? – a menina lhe indagou.
E a mãe por sua vez, lhe disse; - Olhe ali naquela caixinha!
E ela olhou.
Seus olhos se encheram d’água. A criaturinha não possuía nem
30 dias ainda;
- Como alguém pode
abandonar uma coisa dessas? - ela pensou, e cheia de compaixão o tomou nos
braços e o acariciou – sentiu sua boca procurar seus dedos, sugando como se
fosse o bico do seio de sua mãe e ela riu de toda aquela ternura. A mãe lhe
estendeu a mamadeira e a menina o amamentou.
Naquele dia, ela deixou o banho pra bem mais tarde, se
permitiu ficar ali, o vendo naquela tentativa deliciosa de firmar as patinhas
tentando manter-se em pé. A
menina sorria enquanto ele se enfiava embaixo de suas coxas. Ele a amou. Ela o
amou.
Seis meses se passaram desde aquele setembro e ele cresce com
os cuidados dela. E toda a ternura que
setembro trouxe através dos olhos dele, hoje a faz entender.
As ternuras futuras, os acontecimentos incabíveis e inaceitáveis
da vida – o abandono que ocorre por um lado, que permite o amparo do outro, nos
mostra, nos traz, é muitas vezes, o escape que a vida nos oferece, que a vida
nos envia.
Ela entendeu.
Comentários
Inspirador como sempre por aqui.
Beijo.
Abraço grande!
Só o tempo pode coloca-las no lugar...
Bjs!!!
Um cheiro, pretinha.